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Lições do Céu

Os chineses dividiram as manifestações da

Natureza em duas categorias. Para eles, tudo

o que existe no mundo pode ser classificado

em aspectos Yin ou em aspectos Yang. Assim,

o dia, a claridade, o calor e o visível são

aspectos yang da Natureza, enquanto que a

noite, a escuridão, o frio e o invisível são seus aspectos yin.

 

 

 

um ponto da cor oposta. O ponto preto são as sombras do dia e o ponto branco é a luz das estrelas e da lua dentro da noite. Segundo os taoístas, os pontos de cores opostas mostram que dentro de cada aspecto também existe o seu contrário. A vida funciona em harmonia por causa dessa realidade. Por exemplo, para que uma pessoa venha ao mundo, acontece a fusão de uma célula feminina, o óvulo, com uma célula masculina, o espermatozóide. Não importa qual será o sexo da criança que vai nascer a partir da fecundação, mas ela terá um pouco do sexo oposto na sua constituição.
Não existe luz total nem treva total. Por isso, viver em equilíbrio significa evitar a polarização para apenas um dos lados; é experimentar todos os aspectos da vida de forma moderada, sem exageros, sem extremismos, e dentro de sua própria natureza. 

Há milênios, os taoístas afirmam que a polarização, a divisão e a exclusão, são a origem dos conflitos, sofrimentos e frustrações.

Para eles, o mundo não se divide em dia e noite

pura e simplesmente.
Não existe um interruptor entre a noite e o dia.

Quando se percebe, já é dia ou já é noite. Não

ouvimos nenhum clique no céu para nos avisar

que já ficou escuro ou claro. Não há nada que indique o instante exato em que o dia se transforma em noite. Com isso, os sábios chineses perceberam que não existe separação entre os opostos. Uma coisa se transforma na outra, uma coisa gera a outra num continuum sem divisões. Os sábios chineses chegaram a uma conclusão fundamental: o que separa uma coisa da outra é o infinito.
Entre o dia e a noite, existe um período que se chama transição. Transição significa que se percebe o trânsito. Quando existe trânsito entre os conceitos, existe transigência, tolerância, acordos. A visão dualista, ao contrário, é intransigente e gera intolerância contra os diferentes, contra os opostos. Quando se percebe que existe transição entre todos os conceitos, assim como existe transição entre o dia e a noite, é possível chegar a um acordo entre os opostos. É possível condescender, conseguimos tolerar as oposições de forma saudável e criativa.
O sábio harmoniza os conflitos interiores e se sente ligado ao todo, a uma lógica e a uma sabedoria que transcende a própria pessoa. Por isso, está sempre em paz com ele mesmo e com o mundo.           

O céu não é claro nem azul. É a luz do

Sol que incide sobre a camada de

gases do planeta e dá o aspecto

azulado e brilhante que percebemos

durante o dia. Mas, à noite vemos

como o universo é de fato. Sem a luz

do Sol, tudo volta à escuridão, o céu fica transparente e enxergamos a Via Láctea. As estrelas não aparecem à noite nem desaparecem quando chega o dia. Elas estão sempre lá. É a massa de ar do planeta que fica "opaca" com a incidência da luz do Sol e bloqueia a visão das estrelas durante as horas claras.
Isso mostra que podemos nos iludir com o dia, com as coisas do dia, com as coisas diárias, do dia-a-dia. Nos iludimos com as atividades, com a racionalidade, com as coisas imediatas e rasas. Significa que as coisas essenciais estão na escuridão, na noite, no silêncio. As coisas eternas estão escondidas, longe da luz, longe dos holofotes, atrás das cortinas, atrás do brilho e são infinitas e profundas como o universo.
Na Terra, a luz do dia bloqueia a visão das estrelas, ou seja, as coisas aparentes bloqueiam a visão da essência, das coisas universais. Não se trata de valorizar a escuridão em detrimento da luz. Trata-se de ter consciência de que o que se vê não é a realidade total e que existem coisas mais profundas que ficam além do que se vê normalmente de dia e no dia-a-dia.
Quando não existe o céu azul, é possível ver as estrelas. Quando não existem as ilusões das aparências, é possível ver a essência.                                          

 

 

 

 

 

 

 

 

Ele não quer chegar na estrela, mas apenas vai em sua direção.Buscas como sabedoria, conhecimento de si mesmo, eliminação do ego, desapego, amor universal, superconsciência e outros grandes ideais, também são indicadores de direção, exatamente como as estrelas são para os navegantes. Mas se a direção for encarada como meta, como objetivo, então ela se transforma num objeto de desejo, se transforma em alguma "coisa" a ser conquistada. Se forem objetos, serão desejos do ego, serão apegos.
As estrelas no céu nos mostram que existem coisas muito profundas que são inalcançáveis e que ultrapassam os limites humanos. Sem as estrelas, sem algo profundo que nos direcione e dê sentido à existência, ficamos no mesmo lugar, presos nas mesmas atividades cotidianas, com os mesmos pensamentos. Com o infinito, o eterno e o transcendente como parâmetros, vamos além dos pensamentos de sempre, dos sentimentos mesquinhos e egoístas, ultrapassamos os conceitos e preconceitos. Precisamos de coisas que estão fora da nossa vida diária (o transcendente) para orientar nossa vida.

O navegante precisa ter certeza de que o

Sol vai nascer à leste e morrer no lado

oeste. Porém, o Sol não nasce nem morre.

Não é o Sol que nasce e morre; é a Terra que

gira. O movimento do Sol é aparente.
A lição mais óbvia do movimento do Sol

é a de que "as aparências enganam". Podemos nos iludir com o que vemos. Mas, na realidade, a maior lição talvez seja outra. Não são as aparências que enganam. As aparências são aparências, elas não querem nos enganar só para rir da nossa estupidez. Nós é que nos enganamos. Não é o Sol que nos engana com seu movimento, nós é que desconhecemos a realidade ou nos esquecemos dela e julgamos que o Sol nasce de um lado e morre do outro.
Em todas as situações quando não temos explicações verdadeiras nem a percepção do todo, de um modo abrangente, costumamos fazer julgamentos. A conclusão que podemos chegar com isso, é surpreendente: só fazemos julgamentos quando não sabemos a verdade. Em vez de buscar a verdade, preferimos fazer julgamentos a partir das aparências. Por isso, o problema não é que as aparências enganam; o problema é que nós não sabemos a verdade e fazemos julgamentos a partir das aparências, e acreditamos neles como se fossem verdade. 
O julgamento é um ponto cego da mente. Ele desconsidera toda e 

as árvores, as vacas, a casa, o camponês, enfim, sobre tudo. Essa incidência da luz solar que acontece ao mesmo tempo sobre todas as coisas, pode ser chamada de "incidência simultânea" ou "co-incidência". Com isso, podemos entender que tudo já é "co-incidência" ou, para usarmos a palavra da forma correta, tudo já é "coincidência".
O I Ching é baseado na "co-incidência". Para um taoísta, a pessoa que consulta o I Ching é um ser humano que existe dentro do universo. Os sentimentos e os pensamentos que essa pessoa tem, fazem parte dela e, portanto, fazem parte do universo. Os eventos que ela vive no momento são coisas que acontecem dentro do universo. O I Ching existe dentro do universo.
A consulta ao I Ching também é um evento que acontece dentro do universo.

Na cosmovisão oriental, tudo faz parte do universo,

está interrelacionado e forma uma única realidade.

Assim, todos os eventos internos e externos à

pessoa estão interconectados, tudo já é coincidência.
A Natureza e o I Ching são existências coincidentes

 e inseparáveis.

A intenção do I Ching é a de nos apontar o caminho da sabedoria a partir das imutáveis leis da Natureza. Assim como o Sol incide sobre todas as coisas, o I Ching joga luz sobre todas as situações da nossa vida através das coincidências significativas.  

                        

 Transcrito do livro:

OTSU, Roberto. A SABEDORIA DA NATUREZA: Taoísmo, I Ching, Zen e os ensinamentos essênios), do autor Roberto Otsu. Editora Ágora, 2006. Edição 4)

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A polaridade, segundo os orientais, não é absoluta, estanque e excludente. Eles não falam em oposição pura e simples e sim em complementaridade. No Taoísmo, yin e yang não são opostos que se excluem. Ao contrário, são opostos que se inter-relacionam, que se complementam.

É isso que nos mostra o símbolo do Yin-yang.Dentro da área larga de cada cor, vemos

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Museu da Ciência Exploração Espacial
Planeta e da Lua

As estrelas ultrapassam os limites humanos em termos de tempo e de espaço. Elas são eternas e inconcebivelmente maiores do que o homem e a Terra.Tanto na viagem noturna pelo mar adentro quanto na viagem pelo aprofundamento do nosso mundo interior, a estrela representa a direção, o sentido em que se deve seguir. Um navegante vai em direção da estrela-guia, mas não vai para a estrela.

Terra
Mente digital

qualquer possibilidade de resposta que não tenha origem no que vemos, ouvimos e sentimos. A postura do sábio é a da receptividade neutra, é a de permanecer vazio e aberto às situações e às pessoas. Sem fazer julgamentos. Durante o dia, numa paisagem  campestre, a  luz  do Sol  incide sobre a montanha, as nuvens, o rio

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